sábado, 7 de janeiro de 2012

Ainda sinto os fortes abraços de despedida e temores.
Ainda sinto meu peito fortemente se encontrando com o seu, e os beijos misturados às lágrimas.
Sinto e muito. Desacredito e deixo de compreender tanta coisa.
Como se torna possível ter tudo e trocar por incertezas pelo simples prazer de aventura?
E eu que me aventurava com meus arrepios toda vez que sua pele bruscamente se encostava na minha.
Deixo de compreender o que pode haver de maior em corpos vazios que consiga superar um amor.
Me dá lapsos de raiva e de dúvidas, lapsos fortes e intensos, que me tiram o ar. E eu me seguro, para que meu corpo não voe junto das dúvidas.
Por que tem que ser assim?

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Fim

Uma atitude.
A gota que faltava.
E uma barreira se quebrou.
Gotas e gotas se espalham pela pele lisa e branca, tendo como obstáculos apenas o contornos dos olhos, e em queda reta, o contorno dos lábios. Fora isso, mais nada.
Nem mesmo o medo de ser feliz, a vergonha de chorar, de soltar sussurinhos de dor e desprazer.
Um choro, ordenado, forte, firme, sem pausas. Pensamentos negativos expulsos em lágrimas. Em muitas lágrimas.
Lágrimas, gotas de água. Mas aquilo era maior, era um choro, choro de amor, de quebra de amor, de quebra de contrato de amor. Era o anúncio do fim.

Fim.

sábado, 24 de setembro de 2011

Eu crio super-heróis, eu crio madres Teresas e Chicos de Assis.
Eu não os crio como um deus os criaria, desde o começo, eu os crio no meu olhar, por cima de pessoas.
Isso é egoísta, talvez, mas eu juro que é por puro amor, por pura necessidade ou vontade de amá-las. Eu crio porque preciso maquiar ou ignorar seus defeitos.
Eu crio verdadeiros intocáveis, tais como filhos falecidos de uma mãe chorosa. E eu os amo, como os amo.
Eu crio um verdadeiro altar no meu coração, e deposito flores todos os dias. Flores frescas que logo ressecam pelos ares frios que o invade. Eu crio imagens sagradas de puro gesso e ilusão.
Não é por mal, é pela necessidade de ter imagens no meu altar, e se não for verdadeiros consagrados, não cabem, não ornam.

Mas é dolorosa a queda, o perceber, o sentir da realidade. Isso sempre vem. E eu percebi que não amava-os mais pela imagem que criei, mas sim por serem o que é. O que realmente é. Mas quanto a mim, só fui um simples altar, sem grandes perspectivas. Uma peça, um local, sem menor importancia. Uma imagem consagrada não deixa de se-la pela falta de um altar, mas um altar logo deixa de se-lo pela falta de suas consagradas imagens.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Cálice de amor

Um bar vazio, repleto de solidão e de ares de não existo. Seus móveis, de tão antigos, traziam a lembrança de quem os fez, a lembrança de que só eles ainda existem, pois o tempo passou e consigo levou seus feitores.
Na bancada, um único cálice, um cálice de amor. Nele, a poeira que imperava em todo o ambiente não existia, seu brilho era impecável, nem uma digital, nem uma marca de posse afinal. Com o tempo, só ele permanecera intacto, sem o impacto temporal.
Em um banco e também em uma mesa, a única mesa e único banco de todo aquele espaço, um homem, um único homem, um homem que desejava a única bebida que havia naquele único bar de uma única cidade de um mundo remoto. E lá sentado e incansável, ele aguardava que, ao menos e por amor a Deus, um único servente o fosse servi-lo. E sempre que ouvia sua mente, já em uma vontade óbvia e sensata, lhe dizer para servir-se do cálice, ele a respondia "cale-se", sem saber que ninguém pode servi-lo de amor, se não ele próprio.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A caixa de lápis

Ele era do tipo que adorava as cores dos lápis coloridos que ganhava todo ano no começo das aulas.
Quanto maior o número de cores, maior era sua felicidade, e as horas que perdia apreciando cor a cor.
Deitava-e se no chão e espalhava todos os lápis novos, olhando por um angulo quase reto, descansava-se a vista para que com o desfoque pudesse ver as cores se misturando.
Logo, as 12 cores se tornavam 36, e isso o fazia feliz.
Aprendeu assim a multiplicar cores e beleza, e logo o melhor sempre era visto.
Até que conheceu o lápis 2b e seu grafite forte e sombrio, e nele também conheceu outro tipo de beleza. E foi conhecendo outras, e outras, e outras...
Até que um dia, a beleza de multiplicar cores apenas com o olhar foi sendo esquecida, junto de tantas outras coisas... E aquele universo de cores que via sempre que queria, se tornou nulo e sem força.
Mas ele, que acredita que suas luas devem estar em algum signo teimoso, continuou a tentar, tentar, e mesmo sem ver tanta beleza, ainda se vê deitado no chão procurando o jeitinho de encontrar.

domingo, 12 de dezembro de 2010

E o que me derruba...

Sabe o que me derruba? O que me faz chorar como criança, ficar dias e dias pra baixo e me sentir mais frágil?
Não são os grandes desafios, os grandes tapas que a vida dá, as grandes decepções... Isso me fortalece.
Me cansa ao ponto de me derrubar são as pequenas faltas, os pequenos detalhes.
É dormir de tarde e acordar de noite e perceber que sempre durmo com vários probleminhas, e de tão esnobados só são percebidos quando se unem e conseguem dar um grito.
É perceber que recebo nem um sétimo do que ofereço, de que apenas a ponta do meu icerberg é vista.
É concluir que o que sou é apenas um resumo de mim mesmo, um esboço feito com grafite e jogado numa escrivaninha. E sem nenhuma vontade de dar vida à idéia.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Era tão seco quanto um deserto.
Tão quente que criava-se miragens o tempo todo.
A paz era mais violenta do que se podia prever, e aos poucos retirava de suas mãos as esperanças, a vontade, o desejo de ser.

Seus olhos só não pesavam mais do que seus ombros, e todo esse peso sucumbia suas capacidades.
Num momento, só parou. Não quis mais pensar, rir, falar, cantar ou criar, só queria viver - ou não.
Deitou com sua respiração ofegante, quase que morta, esperando um novo sol, sem saber que deveria esperar por si mesmo.