sábado, 24 de setembro de 2011

Eu crio super-heróis, eu crio madres Teresas e Chicos de Assis.
Eu não os crio como um deus os criaria, desde o começo, eu os crio no meu olhar, por cima de pessoas.
Isso é egoísta, talvez, mas eu juro que é por puro amor, por pura necessidade ou vontade de amá-las. Eu crio porque preciso maquiar ou ignorar seus defeitos.
Eu crio verdadeiros intocáveis, tais como filhos falecidos de uma mãe chorosa. E eu os amo, como os amo.
Eu crio um verdadeiro altar no meu coração, e deposito flores todos os dias. Flores frescas que logo ressecam pelos ares frios que o invade. Eu crio imagens sagradas de puro gesso e ilusão.
Não é por mal, é pela necessidade de ter imagens no meu altar, e se não for verdadeiros consagrados, não cabem, não ornam.

Mas é dolorosa a queda, o perceber, o sentir da realidade. Isso sempre vem. E eu percebi que não amava-os mais pela imagem que criei, mas sim por serem o que é. O que realmente é. Mas quanto a mim, só fui um simples altar, sem grandes perspectivas. Uma peça, um local, sem menor importancia. Uma imagem consagrada não deixa de se-la pela falta de um altar, mas um altar logo deixa de se-lo pela falta de suas consagradas imagens.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Cálice de amor

Um bar vazio, repleto de solidão e de ares de não existo. Seus móveis, de tão antigos, traziam a lembrança de quem os fez, a lembrança de que só eles ainda existem, pois o tempo passou e consigo levou seus feitores.
Na bancada, um único cálice, um cálice de amor. Nele, a poeira que imperava em todo o ambiente não existia, seu brilho era impecável, nem uma digital, nem uma marca de posse afinal. Com o tempo, só ele permanecera intacto, sem o impacto temporal.
Em um banco e também em uma mesa, a única mesa e único banco de todo aquele espaço, um homem, um único homem, um homem que desejava a única bebida que havia naquele único bar de uma única cidade de um mundo remoto. E lá sentado e incansável, ele aguardava que, ao menos e por amor a Deus, um único servente o fosse servi-lo. E sempre que ouvia sua mente, já em uma vontade óbvia e sensata, lhe dizer para servir-se do cálice, ele a respondia "cale-se", sem saber que ninguém pode servi-lo de amor, se não ele próprio.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A caixa de lápis

Ele era do tipo que adorava as cores dos lápis coloridos que ganhava todo ano no começo das aulas.
Quanto maior o número de cores, maior era sua felicidade, e as horas que perdia apreciando cor a cor.
Deitava-e se no chão e espalhava todos os lápis novos, olhando por um angulo quase reto, descansava-se a vista para que com o desfoque pudesse ver as cores se misturando.
Logo, as 12 cores se tornavam 36, e isso o fazia feliz.
Aprendeu assim a multiplicar cores e beleza, e logo o melhor sempre era visto.
Até que conheceu o lápis 2b e seu grafite forte e sombrio, e nele também conheceu outro tipo de beleza. E foi conhecendo outras, e outras, e outras...
Até que um dia, a beleza de multiplicar cores apenas com o olhar foi sendo esquecida, junto de tantas outras coisas... E aquele universo de cores que via sempre que queria, se tornou nulo e sem força.
Mas ele, que acredita que suas luas devem estar em algum signo teimoso, continuou a tentar, tentar, e mesmo sem ver tanta beleza, ainda se vê deitado no chão procurando o jeitinho de encontrar.